O  marketing da exclusão é uma invenção que tem ajudado muita gente sem  vocação artística a se blindar e se proteger das críticas pela má  qualidade evidente de seu trabalho. Posar de coitadinho é essencial para  que a mediocridade musical garanta o respeito que o faz manter o seu  espaço e tirar lucros do sucesso obtido.
Recentemente  o cantor brega Naldo deu uma declaração em uma entrevista, enfatizando o  fato de ter sido um engraxate na juventude. Naldo não foi o primeiro e  nem será o último. Essa mania de usar o sofrimento como propaganda  pessoal virou mania entre os nomes do popularesco.
É  bom para eles porque somado ao carisma conquistado graças a muito  jabaculê (vocês acham que uma música ruim faz sucesso de maneira  natural? Erradíssimo! Tem que usar muuuito marketing), o nome  popularesco acaba angariando uma comoção, como se ele não tivesse o  direito de ser criticado porque ele "sofreu" para estar ali.
Eles  adoram argumentar que batalharam para estar no sucesso. Vocês sabem o  que significa "batalhar"? O papo de que os popularescos lutaram muito  para estar aí é um argumento não muito convincente. Vejamos...
O  empresariado, interessado em manter a juventude e os pobres, rebeldes  em potencial, encaixotados na alienação e no conformismo, recorre aos  meio de comunicação para que sejam criados "porta vozes" de jovens e  pobres para que ideias conservadoras ou pseudo-renovadoras possam ser  inseridas em suas mentes.
Com  isso, uma gravadora pode recrutar pobres coitados e trabalhá-lo,  construindo a sua imagem de "liderança" para que ele possa fazer sucesso  e se tornar influente. Não precisa conhecimento artístico e nem  talento. Basta fazer o que seus patrões mandam. Simples. 
Obedecendo  os patrões e satisfazendo o que o povo já alienado pela má educação  recebida, que os torna cada vez menos exigentes, o ídolo enriquece e se  torna influente, até que outro nome tão postiço quanto ele o tire de seu  lugar, já que modismos nunca são eternos, por mais que durem muito.
E  onde está o sofrimento de alguém nisso? Em que o cara "sofre" para  chegar ao sucesso. Se a música de Naldo tivesse a criatividade e o  intelecto de um Geraldo Vandré, eu daria razão a ele. Mas sinceramente  cantar musiquinhas mal compostas sobre dança e seguindo exatamente o que  o sistema dos meios de comunicação orienta não justifica o suposto  sofrimento sofrido. Até porque artistas de verdade não precisam ficar  apelando e recorrendo a um passado sofrido para serem ouvidos.
E  não pense Naldo que isso é pessoal, que é só com ele. Muita gente antes  dele já falou coisas parecidas. Ele é quem falou recentemente. Até  mesmo a Ivete Sangalo que não tem origem pobre, teve que forjar as suas  dores passadas para se auto-promover. Muita gente no brega e em suas  subdivisões: "funk", "sertanejo", axé, forró-brega, tecnobrega, e pagode  repetiram declarações muito parecidas, com intenções claras de comover a  população e se promover com essa comoção. E certamente haverá um  próximo a repetir a ladainha, já que a fórmula se mostrou bem sucedida. 
Isso  sinaliza a péssima qualidade cultural do país, onde muitos nomes, sem a  devida capacidade de criar obras realmente artísticas, além de serem  completamente submissos aos meios que os contratam, precisam da  biografia sofrida para substituir as boas obras que nunca conseguem  criar.
