segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Pelo jeito, o segredo da qualidade musical de Naldo está no fato dele ter sido engraxate...

O marketing da exclusão é uma invenção que tem ajudado muita gente sem vocação artística a se blindar e se proteger das críticas pela má qualidade evidente de seu trabalho. Posar de coitadinho é essencial para que a mediocridade musical garanta o respeito que o faz manter o seu espaço e tirar lucros do sucesso obtido.

Recentemente o cantor brega Naldo deu uma declaração em uma entrevista, enfatizando o fato de ter sido um engraxate na juventude. Naldo não foi o primeiro e nem será o último. Essa mania de usar o sofrimento como propaganda pessoal virou mania entre os nomes do popularesco.

É bom para eles porque somado ao carisma conquistado graças a muito jabaculê (vocês acham que uma música ruim faz sucesso de maneira natural? Erradíssimo! Tem que usar muuuito marketing), o nome popularesco acaba angariando uma comoção, como se ele não tivesse o direito de ser criticado porque ele "sofreu" para estar ali.

Eles adoram argumentar que batalharam para estar no sucesso. Vocês sabem o que significa "batalhar"? O papo de que os popularescos lutaram muito para estar aí é um argumento não muito convincente. Vejamos...

O empresariado, interessado em manter a juventude e os pobres, rebeldes em potencial, encaixotados na alienação e no conformismo, recorre aos meio de comunicação para que sejam criados "porta vozes" de jovens e pobres para que ideias conservadoras ou pseudo-renovadoras possam ser inseridas em suas mentes.

Com isso, uma gravadora pode recrutar pobres coitados e trabalhá-lo, construindo a sua imagem de "liderança" para que ele possa fazer sucesso e se tornar influente. Não precisa conhecimento artístico e nem talento. Basta fazer o que seus patrões mandam. Simples. 

Obedecendo os patrões e satisfazendo o que o povo já alienado pela má educação recebida, que os torna cada vez menos exigentes, o ídolo enriquece e se torna influente, até que outro nome tão postiço quanto ele o tire de seu lugar, já que modismos nunca são eternos, por mais que durem muito.

E onde está o sofrimento de alguém nisso? Em que o cara "sofre" para chegar ao sucesso. Se a música de Naldo tivesse a criatividade e o intelecto de um Geraldo Vandré, eu daria razão a ele. Mas sinceramente cantar musiquinhas mal compostas sobre dança e seguindo exatamente o que o sistema dos meios de comunicação orienta não justifica o suposto sofrimento sofrido. Até porque artistas de verdade não precisam ficar apelando e recorrendo a um passado sofrido para serem ouvidos.

E não pense Naldo que isso é pessoal, que é só com ele. Muita gente antes dele já falou coisas parecidas. Ele é quem falou recentemente. Até mesmo a Ivete Sangalo que não tem origem pobre, teve que forjar as suas dores passadas para se auto-promover. Muita gente no brega e em suas subdivisões: "funk", "sertanejo", axé, forró-brega, tecnobrega, e pagode repetiram declarações muito parecidas, com intenções claras de comover a população e se promover com essa comoção. E certamente haverá um próximo a repetir a ladainha, já que a fórmula se mostrou bem sucedida.

Isso sinaliza a péssima qualidade cultural do país, onde muitos nomes, sem a devida capacidade de criar obras realmente artísticas, além de serem completamente submissos aos meios que os contratam, precisam da biografia sofrida para substituir as boas obras que nunca conseguem criar.